4 de fevereiro de 2009

E agora josé ?




E agora, josé?

A festa acabou,

A luz apagou,

O povo sumiu,

A noite esfriou,

E agora, josé?


E agora, você?

Você que é sem nome,

Que zomba dos outros,

Você que faz versos,

Que ama, protesta?

E agora, josé?


Está sem mulher,

Está sem carinho,

Está sem discurso,

Já não pode beber,

Já não pode fumar,

Cuspir já não pode,

A noite esfriou,

O dia não veio,

O bonde não veio,

O riso não veio

Não veio a utopia

E tudo acabou

E tudo fugiu

E tudo mofou,

E agora, josé?


Sua doce palavra,

Seu instante de febre,

Sua gula e jejum,

Sua biblioteca,

Sua lavra de ouro,

Seu terno de vidro,

Sua incoerência,

Seu ódio - e agora?


Com a chave na mão

Quer abrir a porta,

Não existe porta;

Quer morrer no mar,

Mas o mar secou;

Quer ir para minas,

Minas não há mais.

José, e agora?

Se você gritasse,

Se você gemesse,

Se você tocasse

A valsa vienense,

Se você dormisse,

Se você cansasse,

Se você morresse...

Mas você não morre,

Você é duro, josé!


Sozinho no escuro

Qual bicho-do-mato,

Sem teogonia,

Sem parede nua

Para se encostar,

Sem cavalo preto

Que fuja a galope,


Você marcha, josé!

José, para onde?

Você marcha José,

José para onde?

Marcha José,

José para onde?

José para onde?

Para onde?

E agora José?

José para onde?

E agora José?

Para onde?


Carlos Drummond de Andrade
depois dessa música escrever qualquer coisa q seja perde todo o sentido.

2 comentários:

Thaysa Oliveira disse...

Seu blog está lindoooo!!
arrasou!
=*

ecosistema disse...

pow....um dia eu chego la..
quero q o meu cresca igual ao seu..

beijos pra ti..fica na paz!!